Primeira trans a vencer Superliga, Tifanny Abreu abre o coração: "Não quero que me ame, mas tenha compaixão"
Tainá Fernandes / Redação RedeTV!Ao Portal da RedeTV!, a atleta do Osasco analisou o sucesso na temporada e revelou se sonha com a Seleção Brasileira
(Foto: RedeTV!)
Na última quinta-feira (1), Tifanny Abreu se tornou a primeira atleta trans a vencer a Superliga Feminina de Vôlei. A atleta do Osasco São Cristovão Saúde bateu um papo exclusivo com o ‘Portal da RedeTV!’ e abriu o coração.
“Fico feliz de poder representar uma classe que é tanto humilhada pela sociedade machista. Eu estou ali, fazendo o bem para tantas crianças e adolescentes, que são ou não LGBTQUIA+, mas que veem na Tifanny uma oportunidade de ser um grande atleta”, refletiu a atacante.
A oposta estreou na Superliga Feminina em 2017 e, desde então, se tornou alvo de diversas críticas, inclusive de outras colegas de profissão. Apesar disso, ela diz que muitas pessoas mudaram de opinião após conhecê-la.
“As pessoas vão no achismo e não na realidade. E, essas pessoas que eu conheci depois falam: ‘Peço desculpas por agir de uma forma que não conhecia ou entendia. E hoje vejo que você não é o que falavam, você é uma mulher normal’. Dentro do meu clube é tão natural que a gente às vezes até esquece que eu sou uma pessoa trans”, desabafou Tifanny.
Ainda em entrevista ao ‘Portal da RedeTV!’, a atacante classificou que o “mal da humanidade é a língua”, explicando que “ela fere muito mais do que uma faca” e mandou um recado direto aos haters: “Eu queria falar para você que me ataca e vive do achismo: eu sei que você não fala somente de mim, mas de qualquer pessoa trans em outra área. Isso está internalizado em você. Não quero que você me ame e nem me glorifique, mas quero que tenha compaixão pelo próximo."
Ano de Sucesso
Aos 40 anos, Tifanny Abreu fez parte do elenco do Osasco Vôlei que faturou a ‘tríplice coroa’ na temporada 2024/2025: o clube venceu o Campeonato Paulista, a Copa Brasil e agora a Superliga Feminina.
“Foi a resiliência de um grupo que passou por muitas dificuldades, mas soube lidar com elas, levar para os treinamentos e aplicar nos jogos decisivos. Coloco muito a minha fé também”, analisa a jogadora.
Nesta temporada, o time paulista contou com um reforço de peso: a campeã olímpica Natália Zilio. Tifanny falou sobre o impacto da chegada dela na equipe: “Motivava a gente saber que tinha alguém em que se inspirar dentro de quadra. Sempre fui fã dela. Junto com a Camila Brait, que não tenho o que falar dela, este ano a gente teve, além de duas capitãs, dois espelhos.”
A atacante também foi ‘sincerona’ ao responder sobre outra colega de clube: Polina Rahimova, com quem disputou a titularidade: “Realmente, é uma pessoa difícil dentro de quadra, que exige muito das levantadoras. Mas, esse ano foi um ano que ela chegou sendo aquela que brigava, discutia e deixava as pessoas chateadas e se transformou em uma pessoa que todo mundo gosta. Ela se tornou uma atleta do time, não uma jogadora dela.”
Com o elenco recheado de estrelas, Tifanny Abreu também foi peça fundamental, não é a toa que ela foi a quarta maior pontuadora da Superliga, com 442 pontos. A atacante deu uma indireta para quem a chama de ‘amarelona’ em fase final.
“Fui envergonhada, mas dentro de quadra fui honrada. Fechei a última bola nas quartas de finais [contra o Sesc-Flamengo], fechei a da semi [contra o Minas Tênis Clube] e também a da final [contra o Sesi-Bauru]. Tudo o que eu vi, tudo o que me envergonharam e tudo o que passei, Deus foi lá e me fez grande novamente e ele me deu tudo o que eu tenho hoje”, disparou.
Tifanny Abreu na Seleção Brasileira?
Atualmente, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) não autoriza automaticamente a participação de atletas trans nas competições femininas — há regras específicas e restritivas para essa liberação.
Desde que o Comitê Olímpico Internacional (COI) atualizou suas diretrizes em 2021, deixando que cada federação esportiva criasse seus próprios critérios, a FIVB vem trabalhando em sua política específica para atletas trans.
Alguns critérios médicos e fisiológicos rigorosos, incluem:
• Níveis hormonais de testosterona abaixo de um limite específico (geralmente < 2,5 nmol/L) por um período determinado (normalmente 12 a 24 meses);
• Análise de vantagem competitiva injusta, avaliada caso a caso;
• E, em alguns casos, exigência de documentação médica e análise por um painel independente.
Ou seja, não é proibido, mas é bastante restrito e sujeito a avaliação individual — diferente de uma permissão geral.
Ao Portal da RedeTV!, Tifanny Abreu opinou que apesar das restrições já é “um passo dado e uma porta aberta” para a inclusão. “É um pouco mais complicado do que para o clube. Precisa também da redesignação de sexo, o que foi muito criticado já que a COI não exige isso. E precisa também passar por alguns comitês médicos para saber se você não está acima de um corpo e altura mínima”, explicou.
Apesar do avanço, ainda não houve nenhum tipo de convocação de atleta trans no vôlei. Ao ser perguntada se sonha em aparecer na lista do técnico José Roberto Guimarães, atual líder da Seleção Feminina, ela foi direta: “Eu já estou com 40 anos. Quem sabe no futuro a gente não tenha outra menina que jogue tão bem. Sonhar a gente sempre sonha, mas a gente precisa colocar os pés no chão também.”
Veja a entrevista completa com Tifanny Abreu:
Ver essa foto no Instagram
Fique informado com a RedeTV!
- Clique aqui para acessar o canal Esportes RedeTV! no Youtube
- Clique aqui para entrar no canal RedeTV! Notícias no WhatsApp