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DESVENDANDO A TECNOLOGIA
Cláudio Boghi é administrador de empresas, analista de sistemas e possui MBA em Tecnologia Educacional. É mestre em administração de empresas e em ciência da tecnologia pela USP. Atua como consultor há mais de 27 anos em tecnologia da informação e em gestão socioambiental.
 
 
postado em 01/07/2024 16h09

A Dependência do Celular e suas Consequências Negativas para o Cérebro e o uso de Álcool


(Foto: Reprodução/Freepik) 

Nos últimos anos, o avanço da tecnologia transformou drasticamente nossas vidas, especialmente com a proliferação dos smartphones. Estes dispositivos se tornaram uma extensão quase inseparável de nossas mãos, proporcionando acesso instantâneo ao mundo digital. No entanto, essa conexão constante não vem sem custos, especialmente quando se trata da saúde mental e do funcionamento cerebral.

A dependência excessiva de celulares tem sido cada vez mais reconhecida como um problema sério, afetando pessoas de todas as idades. Psicologicamente, o constante uso do celular pode levar ao desenvolvimento de comportamentos aditivos, similares aos observados em dependências de substâncias como álcool e drogas. A necessidade compulsiva de verificar notificações, atualizar redes sociais ou jogar pode resultar em ansiedade, irritabilidade e dificuldades de concentração quando não se está com o dispositivo em mãos.

Além dos impactos psicológicos, há também preocupações crescentes sobre os efeitos no cérebro. Estudos indicam que o uso excessivo do celular pode alterar a estrutura e a função cerebral. Por exemplo, a constante estimulação visual e cognitiva devido ao uso prolongado de telas pode afetar áreas responsáveis pelo processamento visual e pela memória. A exposição à luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos também pode perturbar os ciclos naturais de sono, afetando negativamente a saúde mental e o bem-estar geral.

Adolescentes e jovens adultos estão particularmente em risco, pois seus cérebros estão ainda em desenvolvimento e são mais suscetíveis aos efeitos negativos do uso excessivo de tecnologia. Estudos sugerem que o tempo excessivo gasto em smartphones pode afetar a capacidade de aprendizagem e a habilidade de lidar com emoções.

Além disso, a dependência do celular pode prejudicar as interações sociais e o desenvolvimento de habilidades interpessoais. O uso constante do celular pode reduzir o tempo dedicado a atividades físicas, hobbies e interações face a face, impactando negativamente tanto o bem-estar físico quanto mental.

Fala-se muito da plasticidade cerebral, muito bem colocado pela Dra. Diamond em 1960. Na minha visão, com o uso do smarthphone e outras tecnologias digitais essa plasticidade pode ser influenciada de diversas maneiras, algumas das quais podem ter impactos negativos em um cérebro saudável, especialmente quando o uso é excessivo ou inadequado. Cito quatro tópicos a respeito.

Alterações na Estrutura e Função Cerebral: O uso intenso de smartphones tem sido associado a alterações na estrutura e na função cerebral. Por exemplo, estudos sugerem que o uso prolongado de telas pode afetar áreas responsáveis pelo processamento visual, atenção e memória. Isso pode potencialmente prejudicar a eficiência dessas funções cerebrais se não houver um equilíbrio adequado com outras atividades estimulantes e saudáveis.

Impacto na Atenção e Concentração: A constante interação com smartphones, que frequentemente envolve multitarefa e respostas rápidas a notificações, pode diminuir a capacidade de concentração e foco em tarefas específicas. Isso pode afetar negativamente a produtividade e o desempenho cognitivo, especialmente em ambientes que exigem atenção prolongada.

Distúrbios do Sono: A exposição à luz azul emitida por telas de smartphones pode interferir nos ciclos naturais de sono. Isso não apenas compromete a qualidade do sono, mas também pode impactar a função cognitiva, o humor e a saúde mental em geral.

Dependência e Comportamento Aditivo: O uso excessivo de smartphones pode levar ao desenvolvimento de comportamentos aditivos, onde há uma compulsão em verificar constantemente o dispositivo, mesmo em situações socialmente inapropriadas ou prejudiciais.

No entanto, é importante ressaltar que o impacto específico do uso de smartphones varia de pessoa para pessoa, dependendo de vários fatores, incluindo a quantidade de uso, o contexto em que é usado e as características individuais do usuário. Além disso, não se pode ignorar os benefícios positivos que a tecnologia pode trazer, como o acesso a informações, comunicação instantânea e ferramentas de aprendizado.

Existe uma conexão crescente entre o uso excessivo de smartphones e o aumento no consumo de álcool em algumas populações. Vários fatores podem contribuir para essa relação e novamente cito alguns fatores detectados. 

Fuga da Realidade e Estresse: O uso excessivo de smartphones pode servir como uma forma de escapismo ou distração do estresse e das pressões da vida diária. Para algumas pessoas, isso pode levar a um aumento no consumo de álcool como outra forma de lidar com o estresse emocional ou mental.

Isolamento Social e Depressão: Embora os smartphones ofereçam conexão virtual, eles também podem contribuir para um senso de isolamento social real, especialmente quando substituem interações pessoais significativas. Isso pode aumentar o risco de depressão ou solidão, que por sua vez são fatores de risco conhecidos para o consumo de álcool.

Comportamentos Compulsivos: O uso compulsivo de smartphones pode refletir padrões de comportamento aditivo, onde a pessoa busca constantemente novas formas de estímulo ou gratificação rápida. Esse padrão pode se estender ao consumo de álcool ou outras substâncias.

Influência Social e Normas Culturais: O comportamento de uso de álcool pode ser influenciado pelas normas sociais e culturais ao redor do indivíduo. A exposição a conteúdos relacionados ao álcool em mídias sociais e a interações com amigos que também bebem pode aumentar a probabilidade de um indivíduo começar ou aumentar o consumo de álcool.

No entanto, é importante destacar que nem todas as pessoas que usam smartphones em excesso desenvolvem problemas com álcool, e a relação entre esses comportamentos pode variar significativamente de pessoa para pessoa. Além disso, muitos fatores individuais e ambientais podem influenciar o uso de álcool, e o uso de smartphones é apenas um dos muitos elementos que podem estar envolvidos.

Promover um equilíbrio saudável no uso de smartphones e outras tecnologias, juntamente com estratégias para lidar com o estresse e a saúde mental, pode ajudar a mitigar os potenciais riscos associados ao uso excessivo tanto de smartphones quanto de álcool. O objetivo é usar a tecnologia de maneira que ela melhore, em vez de prejudicar, nossa qualidade de vida e funcionamento cerebral.
 
Até a próxima!

 

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